Até pouco tempo atrás, abrir uma casa de apostas no Brasil parecia simples, afinal, o mercado crescia, as plataformas se multiplicam e o interesse do público nunca foi tão alto. Você até via influencers criando suas próprias plataformas e conseguindo bons resultados com isso. Mas, existe um Brasil antes e depois da regulamentação da área, que ocorreu pela Lei 14.790 de 2023. Agora, o assunto ganhou outro patamar, envolvendo regras bem mais formais.
E entender essas regras é essencial não só para quem pensa em empreender no setor, mas até para o usuário comum que escolhe onde apostar — seja numa gigante internacional ou até numa plataforma com depósito de 50 centavos, que costuma atrair iniciantes pela facilidade. Entretanto, antes de qualquer operação, existe uma lista pesada de de pelo menos 15 exigências que o governo cobra, e é isso que vamos detalhar agora.
1. Autorização prévia da SPA/MF
A empresa precisa solicitar uma autorização oficial à SPA (Secretaria de Prêmios e Apostas), enviando documentos jurídicos, fiscais, econômicos e técnicos que provem sua capacidade de operar. A análise é feita pelo SIGAP, e só após a aprovação a autorização — provisória ou definitiva — é liberada. Sem esse aval, nenhuma operação é permitida.
2. Pessoa jurídica brasileira com CNPJ ativo
Desde a regulamentação, nada de ficar fora do território nacional. Agora a operadora deve existir legalmente no Brasil, com CNPJ, contrato social e representante oficial no país. Isso garante responsabilidade jurídica e permite fiscalização direta da SPA. Sem essa presença nacional, o pedido de autorização nem é aceito.
3. Capital necessário para começar
A barreira financeira é a primeira peneira: para operar, a empresa deve pagar R$ 30 milhões pela licença (outorga) e comprovar um Capital Social mínimo de mais R$ 30 milhões. Além disso, é obrigatório constituir uma reserva financeira de R$ 5 milhões exclusiva para garantir o pagamento dos prêmios aos apostadores em qualquer cenário.
4. Regras de pagamentos e trilhas auditáveis
Todos os depósitos, apostas e saques devem passar por instituições financeiras autorizadas, sempre com registros rastreáveis. A plataforma precisa manter trilhas de auditoria que permitam à SPA verificar cada movimentação, garantindo transparência e segurança ao sistema.
5. Requisitos técnicos obrigatórios para a plataforma
A operadora deve provar que sua plataforma atende aos padrões oficiais de segurança, estabilidade e registro de dados definidos pela SPA. Isso inclui proteger acessos, manter logs completos e garantir funcionamento contínuo. Tudo precisa ser comprovado com documentação e testes.
6. Integração obrigatória ao SIGAP
Integrada ao SIGAP, a casa de apostas deve sempre enviar dados padronizados sobre operações, apostas e transações. Essa conexão é feita seguindo o Manual Técnico do sistema, usando APIs seguras. Sem essa integração, a autorização simplesmente não é liberada.
7. Certificação independente de jogos e sistemas
A operadora precisa apresentar laudos de entidades certificadoras reconhecidas que comprovem a integridade e a segurança dos jogos e da plataforma. Esses certificados validam itens como funcionamento correto, ausência de manipulação e conformidade técnica com as regras da SPA. Sem essa homologação, nenhum jogo pode ser oferecido ao público.
8. Regras específicas para jogos online e estúdios ao vivo
A operadora deve seguir normas técnicas que definem como jogos online e transmissões ao vivo devem funcionar, incluindo registro detalhado de sessões, logs obrigatórios e padrões de integridade. Antes de oferecer qualquer modalidade ao público, a empresa precisa comprovar que tudo atende às exigências da SPA.
9. Verificação de identidade (KYC) e bloqueio a menores
A plataforma deve validar a identidade de cada usuário por meio de processos formais de KYC (Conheça seu Cliente), garantindo que apenas adultos tenham acesso às apostas. Essa checagem inclui confirmação de dados e mecanismos que impedem criação de contas por menores ou perfis falsos.
10. Políticas de prevenção à lavagem de dinheiro (PLD/FT)
A operadora deve implementar controles internos capazes de identificar operações suspeitas, monitorar transações e reportar atividades incomuns aos órgãos competentes. Esses procedimentos precisam estar documentados e ativos desde o início da operação.
11. Programa de Jogo Responsável
A empresa deve oferecer ferramentas e políticas que ajudem o usuário a jogar com segurança, como limites voluntários, autoexclusão e avisos de risco. Também precisa garantir informações claras sobre probabilidades e canais de apoio, seguindo as diretrizes da SPA. Todos os anúncios devem seguir essas regras.
12. Regras de integridade esportiva
A operadora deve adotar medidas para evitar manipulação de resultados e impedir apostas feitas por pessoas com acesso privilegiado, como atletas e membros de clubes. Também precisa monitorar padrões suspeitos e cooperar com autoridades e entidades esportivas quando houver risco de fraude.
13. Transparência das odds e regras de premiação
A empresa deve apresentar odds claras, regras acessíveis e condições de pagamento totalmente visíveis ao apostador. Tudo precisa ser previamente informado, garantindo que o usuário saiba exatamente como a aposta funciona e qual será o retorno em caso de acerto.
14. Supervisão contínua da SPA
Mesmo após autorizada, a operadora é monitorada pela SPA, que acompanha dados enviados pelo SIGAP, verifica conformidade e pode realizar auditorias. Se houver descumprimento de requisitos, a secretaria pode aplicar sanções, suspender atividades ou revogar a autorização.
15. Cumprimento das obrigações tributárias
A empresa deve recolher todos os tributos previstos para o setor, incluindo impostos sobre receita de jogos e repasses obrigatórios definidos em lei. Esse cumprimento precisa ser regular e transparente, sob risco de bloqueio da operação ou perda da autorização.
A era da facilidade acabou — agora só sobra espaço para peixes grandes
Se antes qualquer pessoa com um site pronto conseguia lançar sua própria casa de apostas, esse cenário ficou no passado. Depois da regulamentação, o mercado ganhou barreiras que só empresas realmente estruturadas conseguem superar. Não é exagero dizer que a “brincadeira” acabou: agora existe um padrão de profissionalização que exige capital alto, tecnologia robusta e conformidade total com o governo.
E os números provam isso. Hoje, apenas 180 (aproximadamente) casas de apostas estão oficialmente autorizadas pela SPA/MF, concentrando bilhões de reais em volume apostado e dominando praticamente todo o tráfego de apostas esportivas no país. Quem não acompanha esse novo padrão simplesmente fica para trás. O Brasil deixou claro: só opera quem é grande, sólido e capaz de cumprir todas as regras. O resto vira história — ou bloqueio.























