Criptomoedas como bnb, amplamente utilizadas em plataformas de contratos inteligentes, começam a desempenhar um papel importante na forma como pequenas e médias empresas (PMEs) acessam soluções financeiras mais avançadas. Muito além do uso especulativo, esses ativos digitais estão se tornando fundamentais em uma tendência crescente: a tokenização de ativos.
Tokenizar significa transformar direitos sobre um ativo físico ou intangível, como imóveis, equipamentos, propriedade intelectual ou recebíveis em unidades digitais registradas em blockchain. Esses tokens podem ser negociados com segurança e transparência, permitindo que empresas liberem liquidez, atraiam investimento e modernizem sua estrutura financeira.
Por que a tokenização está ganhando força?
A falta de liquidez é um dos principais entraves para o crescimento das PMEs. Segundo o Banco Mundial, o déficit global de financiamento para esse setor ultrapassa US$ 5 trilhões, especialmente em países emergentes. A tokenização surge como uma alternativa viável ao transformar ativos pouco líquidos em instrumentos de negociação, ampliando o acesso ao capital sem depender exclusivamente do sistema bancário.
Ao utilizar tecnologias descentralizadas, é possível eliminar intermediários, reduzir custos e agilizar processos como auditoria, verificação de propriedade e registro de contratos. O nível de transparência que o blockchain oferece também fortalece a confiança de investidores algo crucial para empresas que não estão listadas em bolsas de valores.
Aplicações práticas e viáveis
Algumas startups latino-americanas estão usando a tokenização para monetizar propriedade intelectual. Estúdios de design, produtoras de conteúdo e desenvolvedores de software estão criando tokens baseados em licenças de uso ou direitos de exploração, captando recursos de forma flexível.
No setor imobiliário, empresas de pequeno porte já oferecem participação fracionada em imóveis por meio de tokens. Isso atrai investidores menores, acelera a captação de capital e reduz barreiras de entrada para novos projetos.
Em bairros emergentes, construção de galpões, coworkings e até hortas urbanas já são financiados via tokenização, democratizando o acesso ao investimento imobiliário local.
Até em setores tradicionais como o agronegócio e a logística, há iniciativas de tokenização de ativos físicos e contratos futuros, otimizando o capital de giro e diminuindo a dependência de crédito bancário. No Mato Grosso, uma agrofintech tokenizou estoques de soja, permitindo que produtores vendessem “futuros digitais” no mercado secundário antes mesmo da colheita.
Vantagens em relação às opções tradicionais
Entre os benefícios mais relevantes da tokenização para PMEs, destacam-se:
- Acesso ampliado a investidores, inclusive internacionais, sem exigir estrutura robusta.
- Liquidez facilitada, com a possibilidade de negociação dos tokens em mercados secundários.
- Menor risco operacional, com contratos inteligentes que automatizam cláusulas e execuções.
Ainda assim, o processo exige cuidados técnicos e jurídicos. A emissão de tokens deve respeitar as normas regulatórias locais e contar com orientação especializada para evitar riscos legais e operacionais. Além disso, é essencial garantir a interoperabilidade dos tokens, já que muitos investidores globais só entram se os ativos puderem ser comercializados em diferentes plataformas.
Desafios em andamento
O principal entrave para a adoção em larga escala é a incerteza regulatória. Embora países como o Brasil estejam avançando na regulamentação de ativos digitais, muitas nações ainda não possuem regras claras. A falta de padrões unificados dificulta que PMEs planejem emissões com segurança, pois cada país pode ter exigências distintas sobre compliance fiscal, tributário e de dados.
Outro desafio é o conhecimento técnico. Muitos empresários ainda não estão familiarizados com blockchain, o que exige investimento em formação, estrutura tecnológica e mudança de mentalidade. Treinamentos, workshops e parcerias com universidades se tornam fundamentais para acelerar essa curva de aprendizado dentro das empresas.
Também é necessário considerar a segurança: apesar da robustez do blockchain, falhas humanas ou técnicas podem comprometer o projeto. Auditorias, testes e boas práticas são indispensáveis.
Como as PMEs podem começar
Empresas interessadas em explorar essa estratégia devem seguir alguns passos:
- Mapear ativos tokenizáveis, como equipamentos, projetos, direitos autorais ou imóveis.
- Buscar apoio jurídico e técnico, com especialistas em blockchain e emissão de tokens.
- Escolher uma plataforma confiável, que permita emitir e gerenciar tokens com segurança.
- Comunicar o projeto aos investidores, explicando os benefícios e os mecanismos de operação.
- Realizar pilotos-piloto em pequena escala para testar aceitação, liquidez e processos antes de expandir a emissão.
Um novo modelo de valorização
Ferramentas como a tokenização estão criando um novo cenário para a gestão de valor. Em vez de depender exclusivamente de instituições tradicionais, as empresas passam a contar com recursos descentralizados, acessíveis e flexíveis. Com a tokenização, ativos antes “capturados em galpões” como maquinários e máquinas podem ser convertidos em liquidez imediata, sem comprometer o controle sobre o próprio negócio.
Aos poucos, o uso de criptoativos e infraestrutura blockchain está deixando de ser uma inovação distante para se tornar um diferencial competitivo real. Para as PMEs, pode representar a chave para escalar negócios, atrair investidores e inovar com mais autonomia. E no médio prazo, essa agenda deve criar um ecossistema de fomento local, com PMEs tokenizando seus ativos e movimentando capital em plataformas regionais e internacionais, impulsionando novas cadeias de valor.